sábado, 17 de novembro de 2007

O que doi mais? - Parte 02

Dois dias depois, cá estou eu para continuar o quase-conto. Eu já falei e vou repetir: "Qualquer semelhança NÃO É mera coincidência"

Onde é que eu estava? Ah sim...


Começara o segundo ano do colegial e para a surpresa dos dois, apesar de estarem na mesma sala, todas as turmas do ano anterior foram misturadas de forma que as classes fossem separadas de acordo com o grau de inteligência de cada aluno. Agora numa sala com apenas 11 rapazes e sua amiga, o moleque logo começa a se relacionar um pouco mais com a guria, onde um falava com o outro em qualquer momento, fosse em aula ou não.

Como toda sala julgada como sendo a melhor, logo começaram as alfinetadas de toda a escola, além dos professores/diretoria inflarem dia após dia o ego de todos os que estavam na "sala perfeita". Além deste "mísero" detalhe, foi a partir deste momento que a vida do moleque e da guria mudaria radicalmente...

Desde que se conheceram, tinham no meio de tantas coisas em comum, uma divergência: gosto para música. Enquanto o moleque ainda descobria do que gostava, a guria já tinha uma queda pelo bom e velho Metal. Na mesma sala em que estavam, havia um cara que era o perfeito punk, o que despertou a atenção do moleque, uma vez que aos oito anos de idade, tivera seu primeiro contato com o Punk Rock ao ver bandas como Raimundos, Offspring, Green Day e Ramones. Assim, o moleque começou a conversar com o punk e logo se tornaram amigos... Ao mesmo tempo em que o moleque tomava contato com a cultura Punk, tornando-se um mais tarde, ele e a guria sempre estavam ali, lado a lado em qualquer situação. Na maioria das vezes, podia-se vê-los sob uma das árvores da escola conversando, mas sobre o quê? Sobre a vida de cada um, desde a maneira de agir até os famigerados problemas familiares. Só de ouvir as histórias da guria, o moleque passou a perceber que os seus pais brigavam pelos mesmos motivos, além de viverem cobrando que fosse alguém na vida.

A "química" entre ambos era evidente para qualquer um, principalmente o fator de o moleque estar amando a guria, justamente por causa da proximidade que existia entre eles, quase íntima. Como qualquer Punk, o moleque logo tratou de voltar a tocar guitarra, isto graças a um disco de Punk Rock que ganahra como presente de aniversário no ano anterior, mas o máximo que ele conseguia era digitar PowerChords e acordes tradicionais, mesmo sabendo o básico do básico de como solar. Em contrapartida, a guria entrara para uma banda de Metal Melódico e por coincidência, estava ensaiando numa oficina que ficava perto da casa do moleque.

O tempo transcorreu da forma mais divina possível para o moleque. já que ele agora estava mais uma vez feliz por ter encontrado alguém que o entendia sem se importar com os defeitos, tanto que um deixou uma carta para o outro, mas para ele, a sua foi mais especial por conter uma frase que sintetizava tudo o que a guria achava por ele: "De alguém qualquer que te adimira muito..."

O impacto foi inevitável... Seu objetivo estava quase completo até que em um dia, a guria lhe dissera que um de seus amigos lhe dera um Bouquet de Rosas, mas a verdadeira notícia só veio alguns dias antes do festival de bandas que ocorreria em sua escola, onde além de tocar, o moleque finalmente se declararia. Em mais uma das inúmeras conversas, ela acabou por dizer que estava namorando, o que obviamente fez o moleque se sentir um verme, mas para o azar dele, o novo namorado da guria era simplesmente um típico guitarrista fritador, cuja vida se resumia a RPGs e a violentar seu instrumento.

Chegado o dia do festival, o moleque veio a conhecer aquele que se tornaria seu algoz e suas razões não foram poucas... Era até nojento ver uma menina linda ao lado de um cabeludo magricela e repleto de piercings. Mais uma vez, o desgosto tomou conta do moleque, que durante as férias, cometeu o primeiro erro com a guria: aproveitando que seu pai tinha uma administradora de condomínios e o prédio onde ela morava seria visitado, acabou por acompanhar seu pai, além de chegar de surpresa no apartamento dela.

Após este episódio, o moleque se sentiu culpado em todos os aspectos. Mantendo contato durante as férias, apesar de agora estar namorando, a guria manteve a mesma amizade de antes com o moleque, porém, assim que as aulas retornaram, eis que aconteceu a segunda mancada: o punk chegou na sala e se referindo a guria, por brincadeira disse que a amava, mas o moleque acabou ficando puto do nada, simplesmete por não estar em um bom dia. Mais tarde, ouviu aquele esporro da guria, que ficara brava pelo ocorrido. Nesse meio tempo, um grupo de patricinhas se aproximou dela e acabaram por ser as novas "melhores amigas".

Inconscientemente, o moleque foi na medida do possível indicando músicas punks para a guria, que nem dava bola, pelo contrário, passou a alimentar um ódio contra o punk rock, uma vez que o seu amorzinho era o tipo clássico de músico: aulas em conservatório e o pensamento de que música boa e bem tocada tem que ter solos intermináveis. O que parecia um conto de fadas estava prestes a se transformar num campo de guerra...

Após a segunda mancada, o moleque começou a ter aulas de cinema e um dos filmes exibidos era Laranja Mecânica, seu favorito até então. Pouco a pouco, ele se desculpou, mas as longas conversas em aulas vagas foram gradativamente sendo substituídas por andanças solitárias a cada intervalo. Por sorte ou azar, o moleque teve a chance que sempre quis no primeiro ano, pois no primeiro semestre, ele cursou mecânica e podia muito bem se transferir, mas não o fez por causa da guria...

Chegado o dia de seu aniversário, o moleque naturalmente se animara, mas acabou por receber um presente inusitado: a guria precisava ir até a prefeitura devolver uma câmera digital e para poder descer até lá, acabou indo no mesmo ônibus que o moleque tomava para ir até sua casa. Há três anos, ele não recebia algo tão especial como presente, mesmo que dessa vez, fosse uma simples volta de ônibus ao lado dela.

É fato que sempre existiram pessoas invejosas, porém, no caso do moleque a inveja foi o ponto de partida para que um belo relacionamento se partisse. Uma das "amigas" da guria acabou por se aproximar de tal forma que passou a "manipular" as ações e pensamentos da amiga do moleque, além de provocá-lo com perguntas que involuntariamente respondidas, passariam a queimar seu filme perante a guria, devido ao posicionamento tomado conforme cada pergunta respondida.

Agora sentindo um profundo remorso ao pensar no fator de que a guria estava cursando colégio técnico e poderia simplesmente se transferir para a escola onde cursava o técnico, o moleque acabou comentendo o pior de todos os erros: num momento de desespero, relatou tudo o que acontecia para a pessoa menos indicada, ou seja, uma velha amiga da guria que simplesmente desmanchou o elo que ambas tinham. Ao recontar detalhe por detalhe, pediu que conversasse com a guria, mas este foi o seu pior pedido, já que após a tal conversa, a guria simplesmente virou a cara para o moleque. No desepero, acabou por ter um surto. Em conversa mais tarde com uma das "amigas" da guria, esta lhe conta que havia no orkut do namorado da guria, um recado que aparentemente o detonava com o argumento de que ele e a guria não se mereciam.

Sendo obviamente mentira, o moleque tentou de todas as maneiras se retratar com a guria, mas agora era tarde demais: ela não queria vê-lo mais, criando ódio por conseqüência. O segundo ano acabara e dali em diante, tudo o que ele tentou fazer para reconstruir a amizade com a guria foi em vão e isto se repetiu por todo o terceiro ano, onde estava sozinho mais uma vez, na "sala dos intelectuais" cuja companhia era os seus amigos, agora espalhados entre as classes. Para ele, o futuro era e ainda é incerto, levando-o a fazer a seguinte pergunta: "O que doi mais?"

Bem, este é só um resumo de como influências externas podem destruir um relacionamento afetivo. O mais engraçado de toda esta trajetória é que além dela ter sido verídica, o verdadeiro protagonista SOU EU. O meu futuro é incerto além de não poder ajudá-la nas horas em que ela não está bem por diversas razões. Bem, talvez um dia nós dois voltemos a ser amigos, mas nunca eu irei me esquecer de tudo o que aconteceu de bom entre nós, afinal, são poucas as pessoas que eu conheci e confiei até o final, como ainda confio, mesmo que eu tenha sido obrigado a brigar fisicamente...

E eu mais uma vez pergunto: O que dói mais? Amar uma pessoa ou ver que a manipulação conseque distorcer fatos e colocar um contra o outro?

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